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quarta-feira, 3 de maio de 2023
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Morre o ator e apresentador Rolando Boldrin
Legenda da foto: Morre o ator e apresentador Rolando Boldrin
Publicado originalmente no site G1 GLOBO, em 9 de novembro de 2022
Rolando Boldrin, ator, cantor, compositor e apresentador, morre em SP aos 86 anos
Com o 'Sr. Brasil', da TV Cultura, o qual apresentou por 17 anos, Boldrin 'tirou o Brasil da gaveta' e fez coro com os artistas mais representativos de todas as regiões do país, diz nota da Fundação Anchieta. Ele participou de diversas novelas e ainda apresentou programas como 'Som Brasil' na TV Globo.
Por Larissa Calderari, TV Globo e g1 SP
O ator, cantor, compositor e apresentador da TV Cultura Rolando Boldrin morreu nesta quarta-feira (9) aos 86 anos, em São Paulo. A causa da morte foi Insuficiência respiratória e renal, segundo informações da emissora. Ele estava internado no Hospital Albert Einstein havia dois meses.
O velório de Boldrin será realizado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) nesta quinta-feira (10), das 8h às 15h, e será aberto ao público. Ele será velado no Hall Monumental, e o acesso para visitação do público será feito pelo portão do estacionamento localizado na avenida Pedro Álvares Cabral, 201, apenas para pedestres. O sepultamento ocorrerá no cemitério Gethsêmani Morumbi, às 17h.
Com mais de 60 anos de carreira na TV, Rolando Boldrin apresentou o programa musical "Sr. Brasil" por 17 anos. Com grandes sucessos, Boldrin se consagrou como um dos principais expoentes da cultura sertaneja e das raízes da música caipira no Brasil.
"Ele tirou o Brasil da gaveta' e fez coro com os artistas mais representativos de todas as regiões do país. Em seu programa, o cenário privilegiava os artesãos brasileiros e era circundado por imagens dos artistas que fizeram a nossa história, escrita, falada e cantada, e que já viajaram, muitos deles 'fora do combinado', conforme costumava dizer Rolando", diz nota da TV Cultura.
Um dos grandes sucessos de Boldrin na televisão foi o Som Brasil, que começou no rádio e estreou na TV Globo em 1981. O programa foi criado pelo próprio artista.
No Som Brasil, Rolando Boldrin contava causos, dançava e exibia peças teatrais e pequenos documentários. Mas o destaque eram as atrações musicais com forte apelo à cultura popular brasileira.
Na televisão, ainda apresentou os programas “Empório Brasileiro” na TV Bandeirantes e “Empório Brasil” no SBT. Na TV Cultura, estava à frente do “Sr. Brasil” desde 2005.
Boldrin também fez carreira na teledramaturgia. Como ator, Rolando atuou em mais de 30 novelas, como “O Direito de Nascer”, “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Os Deuses Estão Mortos”, “Quero Viver”, “Mulheres de Areia”, “Os Inocentes”, “A Viagem”, “O Profeta”, “Roda de Fogo”, “Cara a Cara”, “Cavalo Amarelo” e “Os Imigrantes”.
Segundo a nota da Fundação Padre Anchieta, Boldrin dizia que era fundamentalmente um ator: "esse tem sido meu trabalho a vida inteira; radioator, ator de novela, de teatro, de cinema, um ator que canta, declama poesias e conta histórias”, falava.
Biografia
Boldrin era o sétimo filho de uma família de 12 irmãos, nascido em 22 de outubro de 1936.
Saído do interior de São Paulo, da cidade de São Joaquim da Barra, ele virou ator de filmes premiados e de novelas acompanhadas no Brasil inteiro e até no exterior, tornando-se compositor, cantor, apresentador e, claro, grande contador de causos.
A voz inconfundível de Rolando Boldrin se tornou em um sucesso na Rádio São Joaquim da Barra. De lá, o artista passou a fazer narrações de grandes projetos nacionais.
Na música, o Boldrin gravou 174 obras de diversos estilos musicais ao longo de 60 anos de carreira.
Além do rádio, da música e da televisão, Boldrin também trabalhou no cinema, com os filmes "Doramundo", "O Tronco" e "O Filme da Minha Vida".
"A TV Cultura agradece pela honra de ter contado com o brilhantismo de Boldrin em sua programação. E manifesta os mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos deste artista gigante que jamais será esquecido", diz a nota.
Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/sp
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
Conheça origem, trajetória e influências de Bráulio Bessa
Publicado originalmente no site CULTURADORIA, em 20 de julho de 2021
Conheça origem, trajetória e influências de Bráulio Bessa
Após o sucesso da declamação de cordéis na TV e nas redes sociais, o poeta cearense tornou-se poeta best-seller
Publicado por Laura Rossetti | Participante do 1º Laboratório Culturadoria de Jornalismo e Crítica Cultural: Olhares e Processos | Colunista do Culturadoria
“Quando a falta de esperança/decidir lhe açoitar, /se tudo que for real/for difícil suportar…/É hora do recomeço./Recomece a SONHAR”. Você, provavelmente, já leu ou ouviu estes versos em algum vídeo enviado no grupo de sua família no WhatsApp. Eles foram escritos por Bráulio Bessa e fazem parte do poema “Recomece”, que, segundo o próprio autor, tornou-se um de seus “clássicos”, pois trata-se do poema pelo qual ele é geralmente reconhecido.
O poeta nordestino ganhou notoriedade nacional a partir de 2014, quando começou a declamar suas poesias de cordel no Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. O quadro apresentado por ele no programa se chamava “Poesia com rapadura”, nome dado, posteriormente, ao primeiro livro do autor, publicado em 2017. Contudo, sua atuação na difusão da cultura nordestina é bem anterior a isso. Abaixo, contaremos um pouco da trajetória e das influências deste artista que, atualmente, é nome de destaque na poesia brasileira.
Trajetória
Bráulio Bessa Uchoa nasceu em 1985, no pequeno município de Alto Santo, no interior do Ceará. Foi na escola que teve contato, pela primeira vez, com a poesia nordestina. A partir daí, passou a admirar e a frequentar cantorias de viola em sua cidade. Ainda adolescente, participou de grupos de teatro de rua, e até fez parte de uma banda chamada Alto Samba.
Sua crescente paixão pela cultura do Nordeste fez com que Bessa criasse, em 2011, uma página no Facebook, chamada Nação Nordestina, para publicar conteúdos sobre tradições, expressões populares e culinária da região. A página tinha mais de um milhão de seguidores, quando, em 2014, o escritor publicou um vídeo em que declamava o poema “Nordeste Independente”, de Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova. Veja abaixo:
A publicação foi uma resposta bem-humorada aos ataques que os nordestinos estavam sofrendo nas redes sociais. Isso ocorreu após a apuração dos votos da eleição presidencial daquele mesmo ano. Dessa forma, não demorou para que o vídeo viralizasse. Bráulio Bessa foi, então, convidado, pela equipe do Encontro, a falar, no programa, sobre o preconceito histórico contra seu povo.
Popularidade
Desde então, a popularidade de Bessa cresceu bastante, e ele se tornou um fenômeno nas redes sociais. Seus vídeos a declamar os próprios cordéis cativaram milhões de brasileiros, contribuindo com a recente tendência de crescimento das vendas na categoria de “poesia nacional”.
De acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado GfK, as vendas na categoria aumentaram 107%, entre os meses de janeiro e agosto de 2018, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
O aumento reflete, justamente, a popularização da poesia no espaço virtual, onde jovens poetas publicam textos e conquistam milhares de seguidores, como é o caso de João Doederlein, Ryane Leão e Zack Magiezi. Assim, os livros de poesia desses e de outros autores ganharam espaço na lista de best-sellers do país.
Influências e literatura de cordel
Aos 14 anos, por meio de um trabalho da escola, Bráulio conheceu a poesia de Patativa do Assaré, importante cantador, violeiro e repentista cearense. Segundo o artista, foi a partir daí que sua relação com a arte se estreitou. A escrita marcadamente regional de Patativa encantou Bessa, e ele logo passou a sonhar em se tornar poeta.
Inspirado pela obra do cantador de Assaré, começou a escrever poemas no mesmo estilo informal. Sendo assim, usava rimas e métrica, próprio da literatura de cordel. A manifestação literária surgiu no interior do Nordeste e se popularizou no final do século XIX.
O nome “cordel” remete ao fato de que, à época, tais poemas eram impressos em folhetos expostos, nas feiras, em cordas ou barbantes. Geralmente, os cordéis versam sobre a vida no sertão, a seca e a fome, além de abordarem a cultura, os costumes e as tradições nordestinas.
Ainda na escola, Bessa conheceu a arte da declamação de poemas, ao ouvir um CD do grupo musical pernambucano Cordel do Fogo Encantado. A forma como o vocalista Lirinha declamava os cordéis fez Bráulio se interessar pelas técnicas de oralidade da poesia e, desse modo, construir seu próprio estilo.
Livros publicados
Além de Poesia com rapadura, Bráulio publicou outros dois livros: Poesia que transforma (2018, Editora Sextante), e Um carinho na alma (2019, Editora Sextante). Ambos foram muito bem recebidos pela crítica, tendo conquistado elogios de grandes artistas brasileiros, como Milton Nascimento, Xico Sá, Lázaro Ramos e Juliana Paes.
Bessa também publicou um pequeno livro interativo – que apresenta perguntas a serem respondidas pelo leitor – chamado Recomece, em 2018. O título faz referência a um de seus poemas mais conhecidos. Atualmente, o poeta trabalha em novo livro, ainda sem data de lançamento.
Texto, imagem e vídeo reproduzidos dos sites: culturadoria.com.br e youtube.com
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
Cantor Genival Lacerda morre aos 89 anos...
Texto publicado originalmente no site G1 PE, em 7 de janeiro
de 2021
Cantor Genival Lacerda morre aos 89 anos por complicações da
Covid-19, no Recife
Artista estava internado desde 30 de novembro no Hospital da
Unimed. Com carisma e irreverência, cantor foi um dos ícones do forró.
Por G1 PE
O cantor e compositor Genival Lacerda morreu aos 89 anos, no Recife, em decorrência de complicações da Covid-19, nesta quinta-feira (7) (veja vídeo acima). Artistas e políticos lamentaram, nas redes sociais, a morte do paraibano e a prefeitura de Campina Grande, cidade natal de Genival, decretou luto de três dias.
O artista foi internado no dia 30 de novembro de 2020, no
Hospital Unimed I, na Ilha do Leite, na área central da capital pernambucana.
Com Covid-19, ele foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
No dia 4 de janeiro, Genival Lacerda teve uma piora no quadro de saúde, segundo o boletim divulgado pela família. Na quarta (6), a família havia iniciado uma campanha de doação de sangue para o cantor.
Em 26 de maio de 2020, Genival Lacerda havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVC) e deu entrada no Hospital d’Ávila, na Zona Oeste da capital pernambucana. Recuperado, ele teve alta três dias depois de ser internado.
De acordo com a assessoria de imprensa do cantor, o corpo do artista deixa o Recife por volta das 13h e segue para ser sepultado em Campina Grande, ao lado do da mãe de Genival, Severina Lacerda.
Perfil
Genival Lacerda foi um dos grandes nomes do forró e, com carisma e irreverência, se tornou um ídolo popular. Conhecido por todo o Brasil durante 64 anos de carreira, era um símbolo da cultura do Nordeste.
O cantor e compositor nasceu em Campina Grande, na Paraíba, em 5 de abril de 1931. Chegou a trabalhar na cidade como radialista, mas fez a primeira gravação como cantor quando já morava em Recife, para onde se mudou em 1953.
Genival gravou seu primeiro disco em 1956, um compacto duplo com "Coco de 56", escrito por ele e João Vicente, e o xaxado "Dance o xaxado", feito por ele com Manoel Avelino.
Ele gravou diversos álbuns e ficou conhecido pelo Nordeste como músico e radialista durante esta fase no Recife.
Em 1964, se mudou para o Rio de Janeiro. A consagração nacional veio com "Severina Xique Xique", de 1975. O refrão "ele tá de olho é na butique dela" virou sua marca.
Em seguida, vieram sucessos como "Radinho de
pilha", "Mate o véio" e "De quem é esse jegue", que
consolidaram o estilo bem humorado do "seu Vavá", como também era
conhecido.
O músico viveu no Rio durante o auge da popularidade do forró no Sudeste, e conviveu com outros artistas fundamentais do estilo como Dominguinhos e Luiz Gonzaga.
Com Jackson do Pandeiro, teve uma relação ainda mais próxima, mesmo sendo bem mais novo. A irmã de Jackson, Severina, foi casada com um irmão de Genival.
Desde os anos 90, voltou a morar no Recife e, em 2016, ganhou título de cidadão recifense da Câmara dos Vereadores. Nos últimos anos, não tinha novos sucessos nas rádios, mas manteve o ritmo de shows e o reconhecimento popular.
No final de 2017, recebeu no Palácio do Planalto a medalha da Ordem do Mérito Cultural (OMC). Na cerimônia, Genival tirou seu chapéu estampado de bolinhas ao passar diante do então presidente Michel Temer.
Na sexta-feira (8), estava previsto o lançamento de uma faixa do DVD "Minha Estrada", com a participação de artistas nordestinos, que foi gravado no Teatro Boa Vista, em agosto 2019. Em 13 de dezembro, aniversário de Luiz Gonzaga, foi feito o primeiro lançamento de faixa.
Apesar do falecimento de Genival, o lançamento da canção com o artista Zé Lezin, está mantido. "O artista faleceu, mas a obra dele vai ficar", disse a assessora da família, Manuela Alves. Ao todo, são 15 faixas, com um lançamento por mês. A divulgação acontece pelas redes sociais e por plataformas digitais.
Genival deixou dez filhos, além de netos e bisnetos.
Genival Lacerda será sepultado em Campina Grande, ao lado do corpo da mãe
Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/pe
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
Morre Raimundo Aniceto, o eterno mestre da banda cabaçal...
Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em
16 de outubro de 2020
Morre Raimundo Aniceto, o eterno mestre da banda cabaçal e
força motriz da cultura popular
O mais velho integrante do grupo Irmãos Aniceto dedicou mais
de 80 anos à cultura popular e transformou sua própria casa em museu para
preservar a arte de várias gerações de sua família
Por Beatriz Jucá
Calou-se o pífano de Raimundo Aniceto. Morreu nesta
quinta-feira o mais antigo dos integrantes da banda cabaçal Irmãos Aniceto.
Enérgico mestre da cultura popular brasileira, Raimundo exaltava a
ancestralidade do Cariri cearense e a magia do sertão na sonoridade do seu
pífano e na dança. Vem de uma família que dança e toca há mais de 200 anos,
inspirada na observação da natureza e na sonoridade transmitida de pai para
filhos pelo ouvido. Raimundo era o último vivo de sua geração do grupo e já
dedicava 80 de seus 86 anos à arte popular. Durante décadas, viajou pelo Brasil
e pelo exterior para mostrar a força cultural dos seus. Mas nunca se afastou do
seu rincão, o Crato.
Não se deslumbrou nem mesmo com a Europa, onde fez uma turnê em 2004. “Tudo lá é muito bonito, mas eu prefiro o bairro Batateira, onde a gente mora”, disse em uma entrevista ao jornal Diário do Nordeste, quando retornou da viagem. Surpreendeu-se, sim, com “o mundo de gente” que se juntou a cada apresentação feita em praças portuguesas e espanholas. Nos últimos anos, Raimundo aceitou o convite do Sesc-Ceará para transformar a própria casa onde morava em um museu aberto. Com muita generosidade, converteu seu lar em uma rica ponte para a magia cultural do sertão. O motivo? “Meu pai me ensinou como era a cultura. A cultura é coisa séria. É onde está nossa vida”, dizia.
Fotografias de apresentações dele e dos irmãos lotaram as paredes. Geladeira, fogão e cadeiras passaram a dividir o espaço dos cômodos com dezenas de objetos históricos do grupo formado ainda no século XIX ― todos os integrantes descendentes do índio Kariri José Lourenço da Silva (o Aniceto) e de Maria da Conceição. A história está colada em placas espalhadas na sala e no corredor: os meninos (seis filhos) passaram a ser chamados de Aniceto pelo apelido do pai. Ainda criança, começaram a produzir instrumentos musicais feitos de cabaça e taboca ― o alicerce da banda cabaçal.
O tradicional pífano de Raimundo Aniceto está acomodado sobre pregos cravados nas paredes, ao lado das coloridas vestimentas dos brincantes. Mas nunca ficou ali esquecido pelo mestre como mero adorno. Nem mesmo quando o AVC que sofreu há pouco mais de quatro anos lhe roubou a capacidade de falar palavra e parte da força da mão direita. Quando estive em sua casa-museu em agosto de 2019, Raimundo tentava conversar em um idioma próprio, já que sua dicção estava muito prejudicava pela doença. Cabia à sua esposa tentar traduzi-lo, e ele se irritava quando ninguém entendia o que queria dizer. A melhor coisa no mundo que achava era receber visita e encontrava um jeito de se comunicar ― se não era possível fazê-lo pelo verbo, o fazia pela força cultural que carregava em si.
A sala então virou espetáculo para uma plateia de três pessoas, onde ele dançava e brincava sua cultura popular, na época aos 85 anos. Pegava o pífano e tirava dele ainda algum som, mesmo com a falta de força nas mãos e no sopro. Sem pronunciar qualquer palavra, tentava ensinar aos visitantes a sua arte. Esta foi uma tarefa que assumiu durante toda a sua vida: disseminar e ensinar sua cultura para que ela siga viva mesmo quando seus parentes deixam este mundo. “Meu pai faleceu aos 104 anos e deixou essa banda. Seis filhos, que são tudo tocador e artista. Hoje a banda está repleta de sobrinho, filho já dos meninos que morreram”, contou Raimundo em uma entrevista ao músico Antônio Nóbrega, há alguns anos. “A gente quer continuar como meu pai deixou. É se acabando um, e nós botando outro pra não se acabar a tradição”.
Raimundo Aniceto já não poderá agarrar aquele pífano (ou pifo) da parede. Com problemas cardíacos, ficou doente há duas semanas. Nos cinco últimos dias, esteve internado em um hospital, onde um teste confirmou também infecção por covid-19. Faleceu aos 86 anos, nesta quinta-feira. Mas a história da banda cabaçal criada pelo seu avô ao pé da chapada do Araripe, lá no Crato, deve continuar a ecoar. “Ele deixa um legado grande, fica tudo. Foi um grande homem, um grande pai e será sempre lembrado pela família e na cena cultural popular”, diz a filha, Socorro. O grupo Irmãos Aniceto agora segue com seus sobrinhos na dianteira. Não há como pegar uma zabumba feita com timbaúba e couro de bode, uma tarefa geralmente executada por Raimundo lá nos fundos de sua casa, sem lembrar do grande mestre. Sua casa-museu também seguirá aberta ao público. Como ele mesmo explicava: "A gente não quer deixar essa raiz se acabar mais nunca. Só se o mundo se acabar de uma vez só. Isso é uma alegria do nosso Brasil”.
Texto, vídeo e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com e youtube.com